As bases de dados são recursos importantes para a prática profissional de tradução. São recursos que os tradutores utilizam para encontrar soluções para estruturas mais complexas no texto de origem, quando o significado ultrapassa o do mero significado das palavras que a integram. As bases de dados oferecem uma estrutura textual equivalente no idioma estrangeiro, que muitas vezes depende do contexto para ser compreendido. O primeiro exemplo é o Linguee.
Linguee
Este talvez seja o recurso mais popular de tradução disponível na internet depois do Google Translate, e mais recentemente o ChatGPT (mas não trataremos disso neste texto).
O Linguee oferece um corpus paralelo, com uma vasta base de dados emparelhados com versões do mesmo texto em outros idiomas. Por exemplo, quando se busca pelo termo em português “comunhão parcial de bens”, ele retornará as entradas correspondentes a essa estrutura textual no idioma de destino. Veja:
Esse exemplo já serve para ilustrar as reservas que devemos ter ao usar a plataforma. Fica claro que “regime of communion partial property” está longe de ser ideal. Provavelmente nenhum falante nativo conseguiria entender o significado dessa tradução, em qualquer jurisdição de língua inglesa. Mas a popularidade do Linguee tem sua razão de ser. Pode servir como referência inicial para o tradutor, antes de se expandir a pesquisa para outras bases que proporcionem mais segurança.
UNTERMS e IATES
Vamos agora a duas das melhores bases de dados disponíveis na internet, o UNTERM e o IATES. São compilações de terminologia elaboradas pelas principais referência de tradução institucional do mundo, a ONU e a União Europeia, respectivamente.
Além de respirarem múltiplas línguas, os linguistas responsáveis por esses glossários são muito bem selecionados, bem formados e bem remunerados. Além disso, também contratam prestadores de serviço de altíssimo nível para trabalhos eventuais [Language Service Providers – LSP].
Seguem alguns relatos de tradutores e intérpretes a serviço dessas instituições.
O UNTERM [unterm.un.org] é o sistema que reúne a terminologia utilizada pelas diferentes agências da ONU. Retomamos aqui a consulta do termo “Community of Property”, no contexto de casamento.
No âmbito da União Europeia, o sistema de terminologia se chama IATE [iate.europa.eu]. Aqui com a consulta de “comunhão de bens”.
Tanto o UNTERM como o IATE são excelentes opções para realizar pesquisas mais aprofundadas sobre termos nos idiomas oficiais da ONU. Como vantagem, eles se destacam por serem alimentados por tradutores profissionais da ONU, com muita bagagem técnica em diversos idiomas. Além disso, o acesso é gratuito. A principal desvantagem é uma certa limitação de escopo, pois os termos são selecionados a partir dos temas discutidos na ONU e na União Europeia. Outra desvantagem é a pouca disponibilidade de entradas em português, especialmente no UNTERM. Mas se o tradutor tem uma boa compreensão de inglês, espanhol ou francês, acabam sendo recursos inestimáveis.
PROZ
Outra opção é o site Proz.com (pronuncia-se como um plural de professional, pro + s, “pros”). Funciona como um fórum, construído por tradutores voluntários.
Por exemplo, veja esta solução proposta para “comunhão parcial de bens”: https://www.proz.com/kudoz/portuguese-to-english/law-contracts/870326-regime-de-comunhao-parcial-de-bens.html
É um recurso bem mais amplo do que as bases de dados da ONU e da UE. Uma desvantagem é que as entradas são alimentadas por tradutores com diferentes níveis de competência. Às vezes, as sugestões são muito equivocadas.
Cabe ao profissional, durante as suas buscas, ampliar as suas fontes de referência, sempre desconfiando delas, até encontrar uma solução que lhe pareça adequada. Uma estrutura de cada vez.
Atualizado em 16/9/2023.
Klébert Machado
Tradutor Público – JUCIS-DF No. 54